terça-feira, 12 de agosto de 2008

Frontalidade em nome da arte



Quando comecei a escrever letras, na altura sem presunção de grava-las, sonhava ter a profundidade do Gabriel Pensador dos anos 90, pois comecei a escrever por sua influência.

Fiquei fascinado pela frontalidade dos temas "Filho da puta", Filho da Pátria", entre outros. Algo que imaginei que nunca pudesse consiguir fazer e até hoje... Isto para dizer que não comecei a escrever por influência dos mc's americanos. Não porque não gostasse da performance dos mesmos em cima dum beet (sei lá como se escreve essa merda de palavra), mas especificamente pela minha inocência no idioma com que transmitem as suas mensagens, dito doutro modo, não sabia falar inglês.

Depois curte Boss A.C. Até que num dia em que julgava que o Boss fosse inatingível deparei-me com o sarcasmo do Sam The Kid. Mas maior que estes na minha opinião era o moçambicano General D, pelo menos em termos de escrita, salvo Gabriel o Pensador. Depois caiu-me Valete, Dealema, Virus, Ikonoklasta, entre outros. Numa altura em que a minha identidade em termos e escrita já estava absolutamente vincada. Não escrevo com base em outros mc's, sou Eu mesmo. Interpreto da minha maneira, dentro das balizas que o contexto onde me eoncontro inserido permite. Não sou daqueles que dizem "o Governo construiu mais cadeias do que escolas", porque isso dentro do contexto moçambicano é absurdo. Temos mais escolas do que cadeias, mas eu questiono a qualidade do ensino e não a quantidade.

Nunca fui um Mc que gostasse muito de frestyles confesso, preocupei-me sempre com temas mais elaborados.

Nunca preocupei-me em gravar os temas que eu compunha, na altura pensava que a concepção de uma letra em música transformaria o autor das letras, mais tarde, num fracasso em termos de profundidade na escrita.

Gravei duas letras e fui para Nampula marrar, julgo que voltei para Maputo em 2002. Tentei gravar uma letra na Kandonga, num beet produzido por Dj Ardilles, nessa altura mas preocupado com o RAP, não o Ardilles que hoje se conhece. Marquei a gravação, mas no dia determinado não fui. O beet perdeu-se. Pouco tempo depois, ouvi dizer que havia um estúdio perto da meu place. Era o estúdio da Thumba Sound. Encontrei um tipo avantajado no portão, P. Underground, perguntei quanto é que era uma gravação, disse-me: "150 paus". E um beet: "150 paus também".

Gravei duas músicas, paguei, de lá para cá é a estória que A.Brown deve conhecer. Passei a fazer parte da família Thumba Sound.

Algum tempo mais tarde fui convidado na pessoa do Olho Vivo, para substituir um grupo de Hip Hop chamado Sociedade Anónima, que não pode abrilhantar o público por razões que se prendiam a qualquer coisa como faculdade, presumo.

Substitui,mandei um fuck ao Hip Hop Time, não por emoção como alguns pensam. Fi-lo porque qui-lo, consciente das interpretações e dos riscos que essa postura acarretava. Como também sabia que ao proferir tais palavras, estava a expressar o que muitos gostariam de dizer. Ou estou a mentir? Não era uma questão de tomates, como sei que muitos disseram por aí. Poderia ter sido noutro espectáculo, mas não foi. Não foi porque o apresentador do programa visado não se deslocava aos espectáculos nos quais eu tinha oportunidade de droppar. Acho que a minha mensagem ao programa só poderia passar se fosse num local público, que todos tivessem oportunidade de ouvir.

Nunca entreguei uma maquete que fosse com um tema meu para passar no HHT. Não concordo com a política do programa. Portanto, demarquei-me do mesmo.

E mais, um ... eu HHT, não é um .... ao Helder Leonel, é um ... a política do programa. Senão teria dito, .... Helder Leonel, mas não o fiz, mas até hoje continuo a dizer ainda não mudei de opinião em relação ao programa. Nao gosto do programa, é reducionista, exclui mc's, nao vejo e nem tenho razão para gostar. Para já que lixe o HHT e mais, maquetes andam de mão em mão, e eu mais do que ninguém tenho, em Moçambique, motivos para crer que os espectáculos também são um forte meio de divulgação para o HHN.

Quantos seguidores do HHT fingem que idoltram-no por uma questão de arrecadar alguns devidendos: procuram exposição, querem ser comentados, mas não passam de bajuladores, mercantilistas de identidade, hipócritas piores que Bush. Eu não gosto e assumo. Eu sei que as minhas músicas pelo conteúdo que transportam são directas demais para os ouvintes desses pseudo-programas de HHT.

Também não vivo na ilusão de que o Hip Hop Time, pudesse ser um programa mais aberto, isso seria impossível. Digo isto porque sei que o programa HHT pertence a RM, uma empresa pública, que de pública nada têm, serve a certos interesses, mas não aos do povo. Com isto não quero dizer que os meus sejam os do povo, mas não me vejo a colocar amarras na minha boca porque necessito de ser deusificado. Aliás gosto de ser controverso, adoro estar a margem do politicamente correcto. Mas nunca olhei para o programa como uma pessoa, não me preocupo com pessoas, olho para o programa como um produto de uma instituição, portanto maior que o Helder Leonel, ou seja o HL produz o programa dentro de certas balizas, não pode veicular extra-normas, com isso não quero dizer que ele seja vítima das circusntâncias, quero dizer que o que se f.. o HHT.

prefiro a liberdade que o anónimato me confere. Conhecemos casos de mc's censurados em programas de Hip Hop, não só, temos um exemplo recente de um reppar que foi censurado num programa da TVM. Porquê? Exactamente porque a mensagem que veicula não vai de acordo com os guardiões do poder instituido. Não só nenhuma revolucionário, mas tenho um modo de ver as coisas muito próprio. Prefiro morrer no anónimato, do que concordar hipocritamente com algo que detesto. Talvez assim haja porque não olho para o Hip Hop como uma montra. Nunca pensei em usá-lo dessa forma. Hip Hop ou RAP, seja lá como o chamem, para mim não representa um fim, é o meio através do qual cuspo o meu pensamento sem amarras. Depois que o colono se foi os africanos libertaram-se dos arames coloniais, mas não libertaram-se do especto colonial. Eu pelo menos não tenho mentalidade de escravo...

Por : XIGONO

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