X-Como é que surge o magazine Túnel? Quais os Objectivos?
Prime: Basicamente a revista foi toda ela uma ideia do Dj Speech. Na altura ele ainda encontrava-se a estudar na Africa Do Sul e o mesmo ligou-me a informar que já sabia como fazer andar um do nossos tantos projectos (neste caso o Túnel). Dito e feito ambos botamos as mão ao trabalho, na altura éramos somente nos os dois e actualmente contamos com mais elementos a trabalhar nela. A revista existe já desde 2005 e nessa altura dizíamos as pessoas que estávamos a fazer um jornal (foi dai que nasceu o “Panfleto Da Eskerda”. O Niosta ouviu-nos a comentar sobre o nosso “jornal” e decidiu fazer um também).
Como todos os nossos projectos, o Túnel tem 2 objectivos (principais) e tantos outros secundários.
Nos principais, o primeiro é de transportar o Hip-Hop Nacional para um outro nível. Um nível em que a sociedade (principalmente a Moçambicana) posso olhar esta arte (Hip-Hop) como algo vital para ela (o que realmente é) e para isso temos dentro dos quadros do Túnel o plano de realizar, promover e incentivar acções no âmbito do desenvolvimento humano, cultural, científico - tecnológico, educativo, económico, uso sustentável dos recursos naturais e boa governança (parece que estamos a sonhar não é? Foi exactamente o que muitos disseram quando informamos que queríamos lançar uma revista) e o segundo, gerar um auto-emprego que possa empregar outrem. Diz um ditado: “Independente é aquele que cria as suas próprias dependências”. Neste momento, eu dependo inteiramente do Túnel, e os que me criaram (meus pais) tornaram-se independentes. O ciclo da vida. Já os secundários são: Executar ou promover projectos de entretenimento; Realizar ou promover actividades editoriais; Realizar ou promover actividades de carácter cultural, económico, educacional e social; Instituir prémios e atribuir à pessoas singulares ou colectivas que se notabilizem nos ramos de desenvolvimento cultural e educacional; Promover campanhas de acção social e financiar e/ou patrocinar projectos. É isso, o Túnel é mais que música.
X-A revista encontra-se actualmente a um preço quase simbólico. Quanto custa ter um projecto desta envergadura? Fala-nos desta estratégia de venda. Compensa comercialmente? Há lucros?
Prime: Hum... Questões desta natureza merecem respostas do tipo: “Isso é um assunto interno do Órgão”. Mas ok, comecemos pelas duas últimas: A revista compensa na medida em que existem anunciantes (a publicitarem suas marcas) na mesma. Atendendo e considerando que cada canto ou página da revista tem seu preço, ela compensa e MUITO somente quando temos lá pessoas a anunciarem seus produtos (embora exista o facto de não se conseguir ninguém para anunciar). É exactamente neste âmbito que os emcees deveriam se orgulhar e ajudar-nos (com boa música e trabalho) pois quem pode querer anunciar seus produtos numa revista de Hip-Hop (que é uma arte marginalizada até pelos fazedores da mesma). Eu agora deveria perguntar “quem mais, além do Túnel, tem amor a camisola?”
Voltando a primeira: A revista esta ao preço unitário de 50mts (mais que acessível) como forma de viciar e implementar a cultura de compra de revista nos Moçambicanos (olha que os resultados tem sido extraordinários, já vendemos uma media de 500 exemplares e agora mesmo vieram comprar algumas revistas no nosso escritório porque em algumas bancas já esgotaram os exemplares) mas a venda não cobre a impressão, a impressão depende mesmo dos anunciantes. Se o preço unitário fosse 100mts daria para fazer a impressão (a gráfica cobra-nos 100 000mt).
Por último temos a estratégia de venda: Estamos a trabalhar em spots publicitários tanto para rádio como para rede televisiva. O sistema de panfletos e camisetes fazem parte da mesma estratégia e estas deverão ser colocada em acção exactamente após a saída da segunda edição. A primeira edição encontra-se a venda nos autocarros Pantera Azul & Tranluz, nos quiosques do CFM, quiosques da Mabuko, Hotel Rovuma, CNA no Shoprite, Supermercado Luz e Bombas da Shell. Enviamos algumas para Inglaterra e USA (temos alguns colaboradores por lá que estão a promover e exibir a revista nos mesmos países) e outras para Portugal. Antes que perguntes, já estamos a trabalhar em via de ter as revistas nas províncias bem como nos aviões da LAM.
X-Quais os critérios usados para a escolha de temas. Que assuntos são abordados? Sentem que a revista reflecte os anseios e as expectativas dos leitores?
Prime: A revista é dividida em departamentos (podem saber mais sobre os mesmos na segunda edição) e visa a promover novos talentos sem esquecer dos conceituados e músicos da velha guarda. É verdade que é necessário que alguém esteja no activo para dar um passeio pelo Túnel, mas além de personagens que estejam no activo, o Túnel vai atrás de quem já esteve e/ou tenha contribuído para área em que se encontra. Na área cultural (música, literatura e etc.) todos são novos talentos até que tenham uma obra lançada no mercado. Veja que um artista que exista a 10 anos, lança ou aparece com um produto seu depois desses 10 anos consideramos “revelação”. Por isso mesmo existe a categoria “artista ou grupo revelação ano x”. O Azagaia por exemplo foi artista revelação 2007. Nesse âmbito os critérios usados para a escolha de temas variam consoante a categoria ou nível do entrevistado e/ou do artigo.
Se a revista reflecte o anseio dos leitores? Absolutamente, ela aborda uma temática diferente. Se te digo agora que conheço um poço de brancas rabudas com tantas curvas que até precisas de um mapa, tu farás de tudo para que eu te forneça este produto pois já te fartaste de beber as pretas e mulatas das fontenarias do teu bairro. É sempre o mesmo grupo (circulo) de pessoas que vês quando ligas o aparelho televisivo, quando sintonizas qualquer estação radiofónica, quando abres a TVZine e o caderno Giro (passo a publicidade) e realmente cansa repetir o mesmo prato todos os dias. A diversidade é essencial e acreditem ou não, existe espaço para tudo e todos. É exactamente ai que o Túnel fica sempre iluminado. Seria injusto o pessoal do Túnel sair por ai a reclamar de falta de aderência. Talvez no âmbito comercial (ate porque a revista depende deste ultimo âmbito para manter as lâmpadas acesas)
X-Falemos daquela que é a parte que mais comentários suscitou a nível dos bastidores. Quais os critérios usados para atribuição de luzes ?A revista tem especialistas na matéria? É opinião individual dos integrantes ou é um consenso do grupo?
Prime: Os bastidores por onde andei suscitaram comentários a nível da revista inteira mas acredito que eu deva ter deixado escapar 1 bastidor. Hum... já até estou a ver onde. Muito bem, A revista é obra de um dj (geralmente um dj é alguém que trabalha com música e devia estar registado na lei que todo aquele que trabalha com música tem que entende-la ou investigar sempre sobre a mesma) e o mesmo trabalha na mesma revista com pessoas que gostam, investigam constantemente e fazem música (artistas musicais).
Sendo este um Túnel usamos lâmpadas para atribuir nossas classificações/criticas obedecendo 3 princípios:
Primeiro: A mensagem (consciente e construtiva) independentemente da língua ou idioma,
Segundo: A qualidade do trabalho (instrumentais, a harmonia entre a instrumental e o artista bem como o nível da qualidade sonora do produto final)
Terceiro: A apresentação gráfica dos álbuns (já ninguém mais vai despachar as capas por aqui).
É importante salientar que a analise critica elaborada na revista não é nacional nem universal, é APENAS do Túnel. A avaliação atribuída reflecte aquilo que o órgão pensa do álbum. Não usamos sistema de votos (sabe-se lá quem goza de bom tempo ou maior condição financeira para estar a enviar um grandioso numero de SMSs a seu favor) e trabalhamos com alguns elementos não pertencentes ao órgão pois uma vez que os membros do Túnel também são artistas musicais, não seria justo avaliar um trabalho no qual o mesmo se encontra directa ou indirectamente ligado (a não ser que as circunstancias exijam). Cada trabalho é “iluminado” por um único membro consoante os princípios da revista e após a avaliação é feita uma analise geral sobre a mesma.
X-Porquê a atribuição de luzes logo na primeira edição da revista? não foi prematuro?
Prime: Prematuro? Já ia bem tarde (olha que os mais velhos já estavam a pensar que seus filhos não eram homens suficiente porque nunca mais lhes davam um neto). A ideia de avaliar trabalhos nacionais (embora o órgão não pretenda classificar apenas trabalhos nacionais) fará com que se trabalhe mais.
X-Vimos em alguns blogs algumas mensagens de Y-Not direccionadas a Prime e almas Habitantes? estão relacionadas com as luzes atribuídas? Que comentário tem a fazer?
Prime: Sem duvidas, as mensagens do Yazald Newton estavam relacionadas com as luzes que atribuímos ao álbum dele. Este é um país democrático, deixe que ele faça uso do seu direito democrático (acredito que seja assim que se diga) que o Túnel faz o dele.
X-Que surpresas nos reserva a próxima edição?
Prime: Na realidade pretendemos que continue surpresa.
X-Falemos agora das Almas Habitantes. O que estão a fazer agora?
Prime: Os AHs encontram-se a trabalhar numa vasta gama de projectos entre os quais posso apenas “fofocar” do estúdio Matsinhe Xperience. Este será o nosso estúdio e label (Almas Habitantes é apenas um grupo com regras, princípios e objectivos) com o qual pretendemos lançar (além dos nossos projectos) diversos artistas e realizar eventos.
X-Para Quando um álbum?
Prime: O nosso grupo é constituído por subgrupos (Mentes Negras e Traficantes de Poesia) e membros a solo (Seiva, Vate, Naparama, Methikal & Réu 0812).
Um dos membros do sub grupo Traficantes de Poesia (o Khronic) encontra-se a trabalhar em Nampula e só temos a chance de gravar com ele quando vem cá de ferias, o que significa que o álbum do grupo talvez esteja pronto final do próximo ano. Por esse motivo, adoptamos o sistema de que primeiro saia alguns (2) álbuns individuais e só depois vira o do grupo. Esta agendado para este ano o álbum do Plus intitulado “Cela 2”
e vários “Folders” (é assim que o Dj Speech chama os álbuns que são distribuídos gratuitamente de PC para PC ou baixados via internet “blogs”) do grupo e membros do grupo.
X-Como olhas para o cenário hiphop actual. o que esta bem? o que esta mal?
Prime: Tudo esta bem e tudo esta mal. Tudo esta bem porque hoje os emcees estão mais preocupados e mostrar trabalho (vídeos, álbuns, eventos e etc.) e tudo esta mau quando nenhum emcee quer aderir tais trabalhos. Deixamos de aderir tais trabalhos por mera inveja: “A inveja é uma pedra que se volta para quem a atira.” Estamos numa fase em que devemos aderir tudo o que vem do Hip-Hop, quando não aderes o trabalho, evento ou obra de um emcee, não fodes a ele mas sim a ti mesmo. Não é um emcee que morre quando não aderimos o trabalho dele mas sim nós mesmos.
X-quais as tuas frustrações quando pensa no hip hop? Acha que os amantes do hiphop identificam-se com os nossos hiphopers?
Prime: Não sei se entendi correctamente a questão mas posso começar por dizer que o egocentrismo é o que mais me frustra no nosso seio. Estamos todos a lutar por uma coroa enquanto ainda não construímos o reino. Vamos lá levantar o reino e depois dai podemos lutar e decidir que é melhor que o outro, quem é o guarda real, a rainha, o rei, o príncipe, o ancião, os conselheiros e ate os peões.
Alguns Amantes identificam-se com os nossos hiphopers sim, eu conheço muitos que idolatram o Azagaia, Flash, Face Oculta, Young-Lu-bengula, Micro 2, Simba, Shackal e Mr Arsen. Muitos deles crianças e idosos. Já nos jovens, os que realmente identificam-se com nosso hiphopers são o sexo feminino. Os homens que identificam-se com nossos hiphopers são hiphopers também e estes são caloiros na arena Hip-Hop ou ainda não tem um espaço conquistado na mesma arena. Parece que aquele que conquista um espaço por aqui, passa a gostar somente dele ou do grupo dele (com muita sorte).
X-Acha que as almas habitantes já conquistaram o espaço e o respeito que procuram no cenário?
Prime: Não podemos negar que alcançamos um espaço considerável mas esta muito longe daquilo que são os nossos objectivos. O sucesso requer equilíbrio entre planejar e fazer, entre o teórico e o pratico. Uma vez alcançada os objectivos é preciso deixar de lado a indecisão. Nos procuramos unir o útil ao agradável e olhamos para as barreiras como obstáculos que devem ser pulados. Tudo o que nos tem acontecido é só o começo. Saberão quando atingirmos nossos verdadeiros objectivos
X-O xitapora tem estado a debater um tema sobre a lírica dos nossos rappers. Como vês as líricas moçambicanas em termos de criatividade e originalidade?
Prime: Quando estamos a fazer algo que não fomos nós que inventamos (Rap) não podemos acusar os outros de não estarem a ser originais e o liricismo tem mais a ver com a categoria que escolheste. No underground por exemplo, temos o street Hip-Hop (battle) que não exige liricismo mas sim flow e skillz, temos o hardcore que exige um elevado numero ou nível de palavras obscenas (é bem difícil dizer coisa obscena de forma lirica), conscious Hip-Hop e Rap Classic onde o liricismo é obrigatório, Rap Soul e Rap Poetry idem e por ai em diante. Para responder esta questão seria necessário saber qual é a categoria em causa. Existe o caso de fazer-se a maior parte destas categorias (1 único emcee), ai o liricismo é obrigatório. Já agora, com base é que vocês levantaram esse debate?
X-O que gostarias de mudar no hiphop?
Prime: Se a questão for relativa a nível nacional eu diria que gostaria de mudar todos os fazedores por outros novos, pois mudar a mentalidade de alguém, principalmente dos homens é algo quase impossível pois estes acreditam que renderem-se aos ideais de outrem seja um sinonimo de ausência de machismo. Até quando estamos errados sentimos que devemos impor autoridade. Gostaria de saber como seria um mundo onde todos mandam. É isso, eu mudava todos esses emcees e botava outros.
X-Acho que dentro em breve muitos rappers vão fazer rap em função da opinião que vira do TUNEL. Que tem a dizer sobre isso? Sente-se poderoso por vir a influenciar o rumo das coisas?
Prime: Hehehehe, Você(s) são mesmo uns Xitaporas, acredito que essa seja a preocupação de todos emcees: “Aqueles tipos das Almas Habitantes querem ditar as coisas no Rap Game”. Se esse for o caso então não será necessário trocar os emcees por outros. Eu como todos os homens quero conquistar um espaço, talvez a diferença seja que eu pretenda conquistar esse espaço fazendo coisas justas. Eu realmente preocupo-me com os outros, ate mesmo com aqueles que não gostam de mim e esse tem sido o meu maior defeito (bem diz o ditado: “aprenda a gostar de quem gosta de ti”). Eu aprendi a dizer “eu sou Deus” com um amigo meu (Alex Pene) e quando eu digo isso (não sei se é o caso do Mr Pene) quero incentivar as pessoas a acreditarem que são capazes de qualquer coisa (do bem) e ter sempre aquele lado cordial (querer o bem para os outros como queres o bem para ti mesmo). É verdade que as vezes Deus zanga, tanto que inundou a terra uma vez e passou uma praga a um local que de momento não me lembro qual, mas antes de mais nada, temos que nos lembrar que a nossa nacionalidade é a humanidade.
X-Que mais gostarias dizer que não tenhas tido oportunidade para tal ao longo desta conversa?
Prime: De momento não me aparece nada em mente, mas acredito que se me vier algo a alma eu não hesitarei em mijar neste urinol.
1 comentário:
Yo! A.Brown, grandes perguntas, P.A. respostas a nivel!
Admirei bastante os pontos de vista e ate certo ponto tenho que concordar!
Força Xitapora (o trabalho esta optimo) Força "O Tunel" a.k.a a nossa salvação.
Big up
mak.da.p
www.makdap.blogspot.com
Enviar um comentário