Por Filipe Luna
Fonte:www.radiolaurbana.com.br
Conhecido como o MC preferido de seu MC preferido, Pharoahe Monch também é um dos MCs preferidos dele mesmo. Sem falsa modéstia, o rapper conversou por telefone com a Radiola Urbana e soltou a seguinte pérola: "saindo da minha pessoa e me enxergando como um fã, eu realmente colocaria Pharaohe, liricamente, entre os grandes".
Monch foi um dos principais nomes da extinta gravadora Rawkus e juntamente com a dupla Blackstar, formada por Mos Def e Talib Kweli, ajudou a redefinir o hip hop na segunda metade dos anos 90. Antes disso, formava o cultuado duo Organized Konfusion com Prince Po.Porque demorou tanto para sair o seu segundo disco desde a estréia, em 99, com "Internal Affairs"?
Passei a maior parte do tempo tentando sair do selo, o Rawkus, e resolvendo problemas com eles. Estava infeliz e eles ficaram me segurando lá, sem deixar eu ir embora.
Você gostava de trabalhar no selo?
No primeiro disco foi ótimo, mas no segundo virou uma coisa completamente diferente. Eles queriam fazer música mais mainstream. Também perderam o acordo de distribuição que tinham. Várias coisas estavam dificultando o lançamento do disco.
É muito diferente trabalhar com uma major, a Universal, no seu caso?
De jeito nenhum. Não para mim, pelo menos. O que tornou a Rawkus tentadora para mim era o fato de que as pessoas tinham a liberdade de criar. Na Universal foi a mesma coisa porque foi gravado através da SRC, que era a antiga Loud records, também de Steve Rifkin, e ele me dá liberdade total.
A distribuição é melhor? Você atinge mais pessoas pela Universal?
Depende, "Internal Affairs" vendeu 300 mil cópias. "Desire" ainda nem vendeu tudo isso. São tempos diferentes agora. Talvez eu tivesse atingido mais pessoas, em termos de exposição, mas quem pode saber? É uma outra época...
"Desire" tem uma sonoridade agressiva. Você estava com raiva de algum assunto ou pessoa especificamente?
Basicamente eu quis que soasse inspirador, grande e agressivo e que as músicas tivessem um sentimento mesmo antes de incluir meus vocais.
A agressividade é algo intrínseco ao hip hop?
Acho que é um erro enquadrar o hip hop em algum conceito. Na maior parte, hip hop é a voz do povo. E essa voz pode ter muitas coisas para dizer. Tento deixar espaço para ficar com raiva, triste, se apaixonar ou sofrer a perda de uma pessoa amada. Não quero me fixar apenas na agressividade porque a vida é muito ampla.
Gravar seu segundo álbum aos 35 anos te deixa mais seguro para falar de assuntos mais pessoais?
Definitivamente, a sabedoria é uma coisa linda. Voce vê o que fez no passado e o que aprendeu por experimentar o amor e ser magoado, e experimentar o amor de novo e perder pessoas que você ama. Você tem que passar essa sabedoria para frente. É assim que tem que soar esse disco. Não é para soar como se eu tivesse 17 anos, sabe?
Você já colaborou com vários artistas importantes do hip hop, como Jay Dee ou o De La Soul. Como você se vê como artista no meio desses caras?
Não sei... Bem, seria um grande fã de Pharaohe Monch, se pudesse sair de mim mesmo e observar de fora. Pela variedade, pelos conceitos diferentes. Saindo da minha pessoa e me enxergando como um fã, eu realmente colocaria Pharaohe, liricamente, entre os grandes.
Quais são suas qualidades?
Eu realmente gosto de alguns versos desse disco, das coisas do Organized Konfuzion e definitivamente de muitas coisas, em termos de letras, do "Internal Affairs". Mas acho que, no geral, "Desire" é o meu melhor álbum solo. E já comecei a trabalhar no próximo, então não vai demorar tanto dessa vez. E está ficando do caralho, estou muito animado! Sinto como se fosse o comecinho do segundo tempo ainda, não chegou nos descontos, acabei de sair do intervalo. É uma coisa linda, estou ansioso para levar essa música para as pessoas.
O que você achou do Nas ter dito no disco dele que o hip hop morreu? Ele está certo de alguma maneira?
Definitivamente. De uma maneira é uma metáfora sobre como as pessoas lidam com a música, especialmente nos EUA. Viajei para outros países e é diferente, existe um respeito maior pela música fora dos EUA. Acho que é uma metáfora de que as pessoas não tem o respeito pelo aspecto da dança, do grafitti, e até do DJ, da cultura. Culturalmente está num coma. Entendo o que ele quer dizer metaforicamente, mas ainda está vivo porque artistas como eu ainda estão aqui, fazendo a música.
Ainda há espaço para o hip hop crescer e evoluir?
Sim, claro.
Quem faz coisas interessantes hoje em dia?
Adoro essa menina chamada Georgia Anne Muldrow, da Stones Throw. Gosto de Kweli e Mos, Imortal Technique... Qualquer coisa que seja de verdade e do coração.
O que você acha de o hip hop ter se tornado tão mainstream? Tipo, o Kanye e o 50 Cent venderam quase um milhão de cópias na semana de lançamento...
Acho que é bom. Se você olhar bem, vai poder enxergar através da porcaria de marketing hollywoodiano que tem nisso. Kanye é um dos mais prolíficos artistas, suas produções são realmente muito boas. E 50 sempre vem com a lição do trabalho duro. Muitas pessoas reclamam da música, mas é muito evidente que quem se esforça vai chegar no seu destino.
Há uma certa ironia no fato de o hip hop ter saído dos guetos para dominar o mainstream? A alma da música não se perde nesse processo?
Hum... Bem, fica um pouco diluída, mas qualquer coisa que venda precisa ser comercializada e propagandeada da maneira certa. O mérito da música sempre vai ser mais importante, o quão boa a música é. Mas tem também o aspecto de saber como vender essa música, o marketing.
É importante vender bem da perspectiva do artista?
Hum, depende. Algumas pessoas entendem qual é o talento e o valor deles e querem ser compensados. Outros fazem por razões diferentes. Nem todo mundo ganha do mesmo jeito, mas dá para pagar as contas fazendo isso. Porém, muitas pessoas que aparecem num clipe de sucesso e tal podem nem estar ganhando tanto dinheiro como alguém que está fazendo turnês constantemente como o The Roots ou Kweli.
Qual é a sua motivação para fazer hip hop?
Gosto do desafio, não gosto de ficar numa zona de conforto. Quero inspirar e tirar emoções diferentes das pessoas, como se fosse um filme. Gosto de ir ao cinema e sair sentindo que posso lutar karatê ou ser um herói de ação e acho que a música pode ter um efeito parecido nas pessoas.
Não é muito comum fazer covers no hip hop, mas você fez de "Welcome to the terrordome", do Public enemy. Porque escolheu essa música?
Essa música foi muito inspiradora para mim e achava que precisava ser ouvida pelas pessoas, essa letra tinha que ser ouvida novamente. E a batida me deixava muito empolgado, então quando aprontei o beat comecei a fazer um freestyle e foi saindo a letra. E pensei: "Nossa, isso ficou bom!". Daí mandei pro Chuck D, ele ouviu e me deu sua aprovação. Achei que ia ser massa fazer porque muitos dos garotos que gostam de hip hop hoje em dia nunca ouviram a versão original.
Você pretende gravar novamente com o Prince Po como Organized Konfuzion?
Quem sabe o que o futuro nos reserva?
Vocês ainda colaboraram?
Sim, a gente se fala.
Ainda são amigos?
Ah, definitivamente!
Você apóia a pré-candidatura de Barack Obama para presidente?
Sim, acho que ele é o meu favorito. Gosto da sua política, dos seus pontos de vista.
Você acha que ele ser eleito vai mudar a situação dos afro-americanos nos EUA?
Hum... Acho que não. Nem sei se isso é possível. Se você começa a mudar a forma como a economia se organiza, você corre o risco de ser eliminado, assassinado.
Sério? Você acha que existe a possibilidade de um atentado contra ele?
Sim, é claro. Se alguém atira em Ronald Reagan, definitivamente poderia colocar veneno de rato na comida dele, ou sei lá que porra eles podem fazer. Foi assim que aconteceu no passado, sabe?
É um sentimento geral nos EUA?
Não sei se é um sentimento geral. Mas é algo com o que ele não parece estar preocupado e isso é o mais importante.
Sem comentários:
Enviar um comentário