segunda-feira, 3 de março de 2008

Na basta ter FL7 e Reason v 3.0 para produzir

Por uma tendência a limitar e excluir



A actividade de fazer instrumentais é um processo que exige antes de tudo conhecimento e imaginação. Conhecimento dos instrumentos que usamos para produzir as referidas instrumentais e imaginação para que com o mesmo som (seja sample ou não) criarmos e recriarmos diferentes tipos de instrumentais. Caso não corre-se o risco de maltratar seja com a má masterização ou má conjugação dos sons, tirando deles o brilho que eles possuem em si.

Ora bem, numa dessas andanças virtuais, deparei-me com uma frase que me deixou deveras preocupado, principalmente numa altura (utópica) destas em que se propaga o lema UNIÃO Hipopers. A frase era algo similar a esta: não basta ter um FL7 e Reason v. 3.0 em casa para fazer instrumentais (...) e de seguida vinha apareçam na minha casa com 200Mts e comprem as instrumentais. E o autor argumentava silenciosamente que deve apenas procurar aqueles que realmente sabem fazer. Eu concordo por um lado pois não queremos ser insultados com instrumentais mal produzidas. Mas em primeiro plano eu gostaria de dizer que isto pode constituir futuramente uma acção monopolista na área de produção de instrumentais e em segundo plano se estamos dispostos a massificar o Hip-Hop, se estamos dispostos a criar um Hip-Hop firme com vários (e bons) produtores, porquê não, no lugar de SÓ vender instrumentais, vendermos as nossas técnicas de produção e masterização de instrumentas? Para além da parte técnica, pode-se ainda criar uma abertura para a disponibilização de ferramentas de trabalho. Falo de programas e seus respectivos plugins (acessórios adicionais que permitem aperfeiçoar o manuseamento do programa). Com esta medida iremos pôr a prova esses discursos de amor a camisola que tanto se propala.

Acrescento, seria mais rico para o Hip-Hop se se criasse (ou pelo menos pensasse) um atelier onde se possa ensinar aos aspirantes a produtores a fazer uma boa instrumental, onde possamos cambiar experiências, pontos de vistas em torno desta sensível área. Claro que isto requer custos, exige muito tempo, mas acima de tudo exige muita vontade. Assim estariam lançadas as bases para a criação de uma escola musical Rap onde seriamos nós a estruturar a nossa maneira de fazer Rap. (hun, plano teoricamente perfeito).

Potencializaríamos deste modo a nossa capacidade de angariar produtores e Djs, corríamos o risco de sermos nós a desenvolver as nossas técnicas de moçambicanização do Rap e não forasteiros, minimizaríamos escândalos sonoros. Bem mencionei aqui Djs porque acho que estes devem andar em parceria com os produtores dado que estes envolvem-se com som embora de maneira diferente.

E para finalizar este trecho acrescento que ficaria desgostoso se hiphopers adoptassem tendências capitalistas (logo elitistas), monopolistas (logo egoístas) mesmo se intitulando undergrounds (mas já notei que muitos undegroundismos terminam na cabine de som, bem como toda a filosofia que a sustenta). E já imaginou o contraste: um MC anti elitismo a repar numa instrumental de um tendencialmente capitalista.

PS: No passado mês de Fevereiro, um grupo (suponho que seja uma associação de produtores locais) sentaram a mesa e discutiram a proposta de uniformizar os preços das instrumentais. Concordo! Temos de criar, organizar e disciplinar o nosso próprio mercado, tanto na venda de instrumentais, letras, roupas, CDs e gravações mediante padrões claro. E por via desta, acordou-se por maioria que o preço das instrumentais devia ser de 200Mt/250Mts para 500Mts. 500Mts por uma instrumental?

Mas vejo esta medida nada viável, vejo esta decisão elitista, vejo ainda esta associação como fruto de um ciclo de amizades ou simpatia. Mas assumo minha vulnerabilidade de erro dado que estou longe do cenário. Se eu for a errar, seria muito bom.

Por: (So)mente





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