terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

BEAT HOPPERS

Tendo em conta as novas tendencias de produçao, que mesmo sendo positiva as vezes caem no erro de disvirtuar ou pretender uniformizar o conceito de boa musica rap, que chegaram a Maputo como uma febre que pariu seguidores e fanaticos de grandes produtores como 9th wonder, jd, etc, criando verdadeiras seitas onde se idolatram tais nomes ao ponto de alguns programas radiofionicos excluirem no seu cardapio outros grandes nomes e grupos que escreveram a historia do rap americano, apostando quase na totalidade do programa em linhas de produçao mais voltadas as influencias jazz ou generos parecidos...todo programa é livre de seguir a linha editorial que melhor entender mas quando essa mesma linha exclui outras tendencias e gostos, que até ariscamos a dizer que correspondem a maioria entao ja nao é legitimo denominar esses programas como a "casa" do hiphop. O xitapora ja esta a preparar um debate em torno deste assunto, e em Março os nossos articulistas irao bombardear opinoes/artigos para os nossos leitores pelo que ja agora convidamos a todos interressados e sensibilizados a enviar-nos também os seus artigos e opinioes. Fugindo um pouco a nossa politiica editorial que preconiza um certo tipo de articulistas hoje trazemos um rapper portugues, Valete, amado em Maputo ao ponte de ja ter gerado clones locais tanto a nivel ideologico ou mesmo ao nivel do flow, com um artigo extraido na quarta ediçao do magazine IV STREET de dezembro de 2006 abordando um pouco deste tema. Este é o ponto de partida na discussao deste tema.


BEAT HOPPERS

O aparecimento de alguns grupos da DaisyAge (Era do rap positivista e espiritualista), que apostavam em suportes rítmicos maisorgânicos e mais bem compostosmusicalmente, como os De la Soul ou os ATribe Called Quest, e projectos maisrecentes como os The Roots, Kanye West,Slum Village etc, trouxe para o movimentoHip Hop um tipo de apreciadores bem peculiar.
Muitos vieram da área do funk, do jazz, dosoul e outros ainda mais ecléticos foram descobrindo o Hip Hop através desse génerode grupos. Eu chamar-lhes-ia de “beathoppers”, porque este tipo de admiradoresda música Hip Hop caracteriza-seessencialmente pelo fascínio que têm pelos os instrumentais. Analisam o groove, a origemdos samples, os drums, a textura sonora, e quase sempre negligenciam o MC, com osseus skills, as suas rimas, o seu estilo, osseus temas etc. Radicalizando, Sam TheKid apontou-os como: “os tais intelectuaisque não percebem rimas, só
instrumentais”.Resumindo os Beat-Hoppers são aqueles que desejariam que todos os álbuns de Hip Hop fossem álbuns de instrumentais. Acham que o Rap só atrapalha.Daqui não vem nenhum mal ao mundo, porque as pessoas (mesmo que descontextualizadas) têm direito de retirar e absorver da música aquilo que mais lhes agrada. O problema é outro. O problema é que a critica musical, que hoje se ergue segura de si, dizendo-se especializada em Hip Hop, e que está espalhada pelos jornais, revistas, rádios e blogs, é quase toda ela composta por Beat-Hoppers. Ou seja, a crítica ou pseudo-crítica de “Hip Hop” em Portugaltem patrocinado a morte do Mcing. Eu adoro pastéis de nata, e até tenho sensibilidade gustativa suficiente para perceber quando estão mais açucarados ou mais torrados, mas não é por isso que me vou classificar como um especialista de pastéis de nata, e desatar a escrever artigos sobre o assunto. Contudo, temos que dar algum mérito aos Beat-Hoppers, porque realmente alguns deles percebem muito de música, e com isso a avaliação que fazem dos instrumentais émuitas vezes cuidada e adequada. E isto tem servido para laurear os produtores mais talentosos, e para inibir ou despertar os produtores menos capazes. O problema é que o pretensiosismo de muitos deles os deixa demasiadamente ingénuos. E muitos realmente acreditam que satisfazem, por exemplo, o Sam The Kid, dizendo que ele tem um álbum primoroso, numa crítica onde gastam 50 linhas para falar dos instrumentais dele, e 2 linhas para falar das rimas e dos skills. Afrika Bambaataa disse numa entrevista, que cada vez mais lhe agastava essa designação de “Hip Hop music”, porque parece que isso direccionava todo o significado do que é o conceito Hip Hop exclusivamente para a música, e apagava a noção de Hip Hop enquanto movimento e uma cultura de 4 (ou mais) vertentes. Ele dizia também que o termo correcto para o que hoje chamamos “Hip Hop music” nunca deveria deixar de ser “Rap” ou “Rap Music”, porque o Rap apareceu como um estilo musical que ostentava a arte de se debitar versos de forma cadenciada. A arte do Mcing. Rhythm and Poetry. Na “Rap music” os beats são importantes, hoje mais ainda, mas nunca se tem uma grande música de Rap quando um MC se revela débil sobre o instrumental. E isto é algo que os Beat-Hoppers nunca entenderão. E é por isso que jamais poderão ser verdadeiros peritos de “Rap music”. Os Beat-Hoppers nunca compreenderão que os melhores instrumentais do mundo não fazem necessariamente um grande álbum, às vezes nem quando têm um bom MC em cima
deles.No outro dia ouvia os sons que Just Blaze (grande produtor) produziu para o álbum “Kingdom Come” de Jay-Z. Gostando se ou não (pessoalmente não gosto) de muitas das temáticas e das preocupações de Jay-Z, é inegável que é um MC dotado. Mas em cima daqueles 3 instrumentais de Just Blaze, que Jigga pôs no seu álbum, pouco mais podia fazer. São do tipo de
instrumentais tão ruidosos, enérgicos e tão preenchidos que ofuscam qualquer MC. Dificilmente daria para fazer brilhar uma letra em cima daqueles beats. Ali está a prova que um bom instrumental e um bom MC nem sempre resulta numa boa música de Rap. Uma boa música Rap, resulta de um acasalamento apropriado entre o instrumental, a letra e o flow do MC, de forma a que o ouvinte se envolva pelo embalo musical sem nunca se desviar ou perder a atracção pelas palavras de comando, que são as palavras do MC. Muitas vezes uma boa música Rap também se consegue com beats medianos. MC’s como Cannibus, Royce Da 5,9, Eminem já o provaram várias vezes. Nas neste seu novo álbum “HipHop is Dead”, tem uma música em acapella, tentando mostrar às pessoas o que é a magia do Rap, a magia da poesia, dos versos, das palavras, do ritmo vocal. É algo que só os HipHoppers sentem. E é por isso que o Hip Hop está morto. Está morto
porque a maioria das pessoas que o consomem não o sentem verdadeiramente, não o sabem sentir. Um Hiphopper é aquele que consegue passar madrugadas inteiras na rua a ouvir rappers a cuspir barras em acapella. Isto porque amamos Rap, amamos rimas. Os Beat-Hoppers nunca entenderão isto.
Os Beat-Hoppers perceberão sempre porque é que o Kanye West, os De La Soul, os The Roots fazem álbuns clássicos, mas nunca perceberão porque é que álbuns como “Capital Punishment” de Big Pun, “Stillmatic” de Nas, “Revolutionary vol 2” de Immortal Technique, ou “Ars Magna/Miradas” de Nach (por exemplo) são álbuns incontornáveis na História do Hip Hop. Os
Beat-Hoppers serão sempre HipHoppers pela metade.



Por: Valete

(extraido do magazine IV STREET, dezembro de 2006)




1 comentário:

Unknown disse...

neoman wrote :
Em suma, hip-hop ta virando uma especie de ciencia em que certos individuos vindo a fazer aquilo que eu chamo de INOVACAO FORCADA.
Em tempos o RAP era feito do sentimento mais profundo do sub-consciente (aquilo que normalmente designamos de musica do coracao).
Hoje em dia o RAP eh mais uma actividade bastante consciente e com objectivos bem claros (fama, dinheiro, mulheres, etc). Resultado surgem certos produtores , que nao fazem mais nada a nao ser trazer sons que podem ate agradar as partes mais cognitivas do ser humano, mas nao alimentam o nosso mais profundo sub-consciente.

Resultado : O RAP de hoje eh mesmo so para se escutar em certos programas de radio de forma muito racional e nao para ser sentida.