terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

O eu e os meus personagens

Uma fuga para a hipocrisia ou para a fantasia!!!?

Saudações!

Antes de devagar sobre este assunto, permita-me fixar os alicerces que irão suportar este assunto que passa despercebido para uma grande maioria, mas que se torna o centro de muita confusão a qual chega a gerar acusações, adjectivações de toda a espécie como: aquele fulano tem um comportamento incoerente em relação ao diz em suas músicas. É um MC-fraude. Há vezes ainda que situações similares levam a debates onde se põe em causa a postura daqueles que são tidos como revolucionários, agentes de sátira social, que entretanto a sua postura (quando os encontramos em sua real face) é mais medíocre do que aquele(s) a quem ele tenta consciencializar ou ridicularizar e vezes há, em que no rap, somos presenteados com discursos relatando efemérides e ou ícones mundiais e nacionais tentando parecer que também são poderosos enquanto esses discursos não passam de um acto sensacionalista. Tudo para serem apreciados.

Ora bem, sempre que ouvimos uma música na qual o emissor da mesma se expressa na primeira pessoa, ficamos com a percepção que se trata de uma opinião da qual este é apologista e tratando-se de uma situação pensamos de imediato que o mesmo tenha participado nela (no mínimo). Mas nós os ouvintes corremos um grande risco de sempre

Um outro ponto tem a ver com os MCs que se intitulam, ou assim são rotulados, revolucionários e dispostos a entrarem na linha de combate. MCs que assumem-se como defensores da causa do “povo” (povo este que eles não conhecem, senão pela TV ou quando vão assistir os seus espectáculos), pregadores da igualdade, promotores implícitos do Comunismo, críticos em relação ao Capitalismo (mas que tem uma elevada cultura de trabalho e consumo acima do necessário) e pior, afirmam-se implicitamente como exemplos de estar e ser. São tudo isto e não sei que mais, sem contudo nunca terem demonstrado uma atitude, uma acção concreta com tanto propalam em suas letras sensacionalistas.

Já vi MCs censurarem e de que forma o juventude drogada (pelo álcool e estupefacientes) mas que nos bastidores dos espectáculos, nas casas de pasto e pelas locais nas ruas consomem a mesma droga que tanto criticam e como se isto não fosse o suficiente, cantam as mesmas músicas nas quais incentivam a consciência dos jovens e naquele estado entorpecido, ganham mais uma inspiração para nova letra de chamada de atenção para comportamentos exemplares. Das mensagens sobre uso de preservativo nem quero falar: não estou lá para os ver caírem na sua incoerência.

A defesa de muitos (senão todos) destes é a seguinte: Aquilo que eu disse naquela música é um personagem que eu descrevi. ele não é eu. Está naquela referida situação e portanto tem aquela visão de pensamento. Nota, não sou eu, nem é minha visão que está ali, eu apenas fiz um retrato e dei a voz ao referido personagem. E para darem um golpe na nossa humilde percepção dizem: estou mazé a criticar aquele tipo de comportamento. Na verdade aquela minha letra é uma mensagem inteligente.

Este subterfúgio é infalível dada a liberdade que o artista tem de criar. Mas tratando-se de arte musical, principalmente as que exigem uma visão coerente entre nossas atitudes e o que tiramos da boca, é num extremo mesquinho e no outro falso, quando somos flagrados num acto incoerente em relação ao que dissemos, afirmarmos que o que dissemos nada tem a ver com a nossa personalidade e sim com um personagem que fabricamos. É num extremo hipócrita escrever textos pomposos, retratando assuntos bombásticos e quando questionados sobre eles dizerem-nos: eu fui inspirado por fulano de X tirando deste modo as culpas pela sua incoerente atitude ou total ausência de argumentos para sustentar as suas palavras.

Portanto MCs, sejamos claros nas nossas abordagens para que hora da apreciação não nos caiam naquela velha história de que a música tem uma mensagem inteligente e que nos como ouvintes temos que perceber que não estamos a fazer nenhuma apologia e sim a criticar de forma indirecta.

Acrescentar por último que é admissível uma mudança de opinião, o ser pensante não é uma entidade estática, mas o que não é admissível é ser incoerente no mesmo espaço e tempo.

PS: Retratistas são os mais fieis (na minha opinião) em relação a toda paisagem descrita em suas letras. Apartidários da situação, não dão quantificam nem qualificam o que descrevem, apenas pintam com palavras, dão voz e não vão mais do que isto.

Som do momento: Tudo vai com o tempo de Yazalde-Yazalde em Tudo se vende, Tudo se compra.

Autor: SoMente

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