domingo, 17 de fevereiro de 2008

Muitos Chamados, Poucos Escolhidos


Porque na verdade a vida resume-se na luta da maioria e vitória da minoria; porque na verdade o nosso Rap resume-se em muitos falantes para poucos ouvintes (quantos MCs sabem cantar versos dos outros? Hum, mal cantam os seus.), porque na verdade o Rap atrai a muitos mas poucos tem estofo e coerência suficiente para cá ficar, justifica-se e muito bem a máxima que dá nome a este álbum do Enbe da Drifa - "Muitos Chamados e poucos escolhidos". Seu primeiro disco que é composto por 23 diversificadas faixas caracterizada por uma notável diversidade em todos pontos...

Melhor não Podia: Pós intro, chega a primeira saudação musical. Um verdadeiro BUM que arrebata qualquer ouvinte que aprecia uma sátira arquitectada, propositadamente, de forma a ridicularizar certas elites revolucionárias, vexar os bastidores da política mas também eleitores completamente distraídos. Atendendo que a letra é do Chaminé, não assustaria a ninguém se aquilo fosse um prólogo do Pornosapiens (aguardemos).

Este álbum não foge, e nem tenta fugir a aquilo que é a intenção de todo e qualquer MC que exige respeito, não porque os outros podem de boca e sim porque merece. Respeito não é para quem tem e sim para quem merece. E nada melhor para merecê-lo que mostrar que se está velho demais para suportar a má educação que a sociedade adquire quando confunde o NORMAL com o COMUM. E não me farto de vociferar contigo Drifa:

[Putos de agora já não repam

Pegam no micro e poupam

Não dizem nada de jeito ainda por cima insultam.

Estes são dos real niggaz

Mensagem e skills

Estas são cenas antigas.

A televisão já não forma nem informa só deforma

Fere-me a vista com cenas de sexo

É uma sociedade de incultura

Quantos jovens tem amor a leitura?

(...)

Ignorância é regra que me enerva

Põe esses putos a ler José Maria Relda...]

Nesta música a ira espreguiçou-se e tocou vários pontos da nossa sociedade o que de forma destemida ele mostra seu lado conservador, tanto na sua moral bem como na sua estreita visão daquilo que deve ser a atitude de um MC diante do microfone. Olhe, critica-se bastante os comportamentos extremistas em relação a certos assuntos. Minha opinião pessoal é em forma de pergunta: Até que ponto um indivíduo de ponto médio é de confiança; até que ponto posso lhe confiar dado que este assume que come em dois pratos? Politicamente finalizo: Não há voto para dois candidatos em simultâneo. Isso é um voto nulo na urna.

Mais temáticas , mais Chamwars e mais colegas:

Sem destoar, o sangue do muitos chamados e poucos escolhidos vai trazendo pregando sua moral entre memórias do passado, indignações inquietações de hoje, aspirações da imaginação, saudades de casa e um estreito compromisso com a causa, defendendo a união de todos MCs moçambicanos – som A bandeira nos une com Sistema Aliado (cuidado com a simpatia oh Sistema. A cascavel quando mostra os dentes não está a sorrir, está sim a tirar os dentes para te injectar o veneno.) e nessa elasticidade ele mostra que também é elástico nas suas relações no seio do rap (não arisco em dizer comunidade) desde Laulane, Ferroviário TCP Bloco 4 (onde os mcs rapam de facto – usando suas palavras), Malhangalene, Coop, Matola, Central trazendo assim diversos participantes ao álbum sem complexo de género ou linhagem. E note-se a miscelânea que não desafina, pelo contrário dá mais brilho a cada música e consequentemente o álbum como foram os coros melódicos feitos por Leo.

Mentiras, Mentiras, Mentiras e mais Mentiras: Meu segundo aceno com a cabeça no sentido norte sul indicando meu SIM, SIM e SIM foram dadas nas faixas 4, 5 e 7. Disse e digo sim repetidas vezes porque quem sente a música na alma e não na palma que se irrita quando o caché é pouco e se estica, engorda e se torna arrogante quando o caché é gordo sabe bem a que me refiro. E é para estas faixas que darei um pulo verbal para compartilhar nossas observações.

Para quem estiver atento notará que as músicas As pernas da mentira, Mukerista da fé e Marque com "V" ou "M" são músicas filhas da mesma ideologia: A hipocrisia como meio de subsistência.

As pernas da mentira

(Nesta época global a mentira já deve ter comparado um carro

Porque ela está cada vez mais veloz

Cada vez mais infiltrada dentro nós

A espalhar-se usando a nossa própria voz...)

Mukerista da fé

[ (Mukerista da fé vendem milagres por quê?

Pois é, são milagres NÃO

Business da fé

(..)

poucos vão lá atrás de um encontro com Deus

Muitos lá vão na esperança de resolver problemas seus,

Saem de lá, sem Deus, sem problemas resolvidos

Arrependidos pelo tempo perdido (...)

*Esta parte leia com um sotaque brasileiro (dos pastores da IURD para ser mais preciso)

... a gente cura mesmo,

hoje muitos são empresários graças a nós (são tretas)

hoje muitos são felizes graças a nós (são tretas)

muitos coxos estão curados graças a nós (são tretas)

Muitos são felizes graças a nós. (são tretas) ]

Marque com "V" ou "M"

[... Corrupção? Não, o que é isso!
no meu país não há nada disso

No meu país não há criminosos

Os nossos deputados têm juízo. (É MENTIRA)

Mataram o homem agora vivem a custa do seu nome

Fazem versos, fazem bonecos, vendem camisetes

Vendem seus discursos gravados em maquetes

Samora this, Samora That, Samora aqui, Samora lá

(...)

Para taparem os nossos olhos com uma venda

fizeram aquele teatro dentro de uma tenda. (VERDADE)

É difícil medir a cobra enquanto ela está viva,

Aguardemos a morte da cobra e depois entramos com a fita

Atenção cobras o vosso dia se aproxima]

Outro:

Seria suspeita minha descrição de algo como se fosse a perfeição superior a perfeição Divina. Não pretendo ser arrogante com a fé de ninguém nem ser emocionalmente falso aqui. Portanto minha crítica primeiro irá se desenrolar via meus pontos de vista demasiados mesquinhos e de como por exemplo: porquê esperar pela morte da cobra se podemos matá-la e de seguida mensura-la? Nossa atitude entanto que agentes contestadores de situações que nos desagradam deve se limitar na narração e na expectativa? E dá a vantagem de a cobra esperar pela sua morte para que seja mensurada. Até lá ela vai picando e multiplicando vítimas e fazendo teatros e mais teatros debaixo daquela tenda. O mesmo olhar vai para deixem passar. Não há que dizer isto para quem quando estamos na estrada nos empurra para as bermas e nos corta as pernas quando queremos andar.

Será possível ter saudades de algo que nunca tivemos, nunca vivemos ou nunca vimos?

Que saudades dos anos 70 – Estou velho

Essa é a voz de quem nasceu na década 80 – No princípio, agora e sempre.

Bem pelas duas músicas fiquei atrapalhado e minha percepção engasgou-se. Perdoem-me se sou mesquinho, mas minha sensibilidade contra coerência não me dá outra alternativa.

Indo para a tipologia ideológica do álbum. O álbum tem duas componentes ideológicas. Toma um ar tipicamente de rua, um álbum que nos faz lembrar batalhas entre MCs. Ele (o álbum) ganha esta forma a partir da décima música em diante. Avaliando por esta perspectiva, não compreendo a ausência de "barulho" que as ruas manifestam diante deste álbum.

Não compreendo este silêncio assim como o modo como ele nos caiu as mãos. É lógico pois tive a informação na rua. Mas lamentar que tenha sido por meios bastante rijos, na nossa opinião. Isto podia ser mais facilitado e mais acessível. E se tivermos em conta que este é um álbum de MC para MC, whôuu, algo está a falhar porque a informação não está a chegar e não esta a ser abrangente. Portanto, continuamos com o problema de sempre: limitação da informação ao seio. Sempre me pergunto se se está a fazer algo de descrição social, uma contestação social (com desejo de mudar ou apenas narrar e alertar) porquê privar esta mesma sociedade de ouvir um tratado acerca do mesmo. Se se diz que Rap é um relato social de que nos vale limitar a informação apenas a circuito Rap como se este fosse o princípio e o fim da coisa.

A outra vertente que o álbum nos mostra esta relacionada com um ar mais caseiro. E sendo caseiro só se pode obter a informação dele em minha casa. Esta ideologia não nos é dada musicalmente e sim comportalmente (permitam-me). Assim, era suposto obter informação destes pelos meios de difusão típicos como rádios e tvs. Nem uma nem outra. E já agora, esta foi a principal razão, fora o facto de gostarmos do álbum e do Rap em si, que nos levou a publicarmos o álbum.

Eis a diversidade (?): Os convidados deviam adaptar-se ao estilo do convidado e não o inverso. Notamos uma leve tendência, a nível instrumental, de satisfazer as características dos convidados, razão essa que determina a diversidade na elaboração da instrumental. Esta observação pode cair no erro se admitirmos a multiplicidade e a elasticidade do colega Drifa na produção sonora das músicas.

Faixa número 6: A aritmética vive:

Um certo personagem com posses ficou viúvo graças aos caprichos de meninos que depois de uma dosagem de drogas, perderam a lucidez e sua mente lhes projectou da realidade para a ficção. Mas como a justiça é como o tempo, está sempre de passagem e nos visita, nem que seja por breves estantes, certo dia este personagem viu com sues olhos, num artigo no jornal que a quadrilha de quatro tinha sido apanhada. Audiência e sentença final: 24 anos para cada um dos quatro. Seis meses depois qual não é o espanto deste personagem ao se cruzar na rua com a mesma quadra assassina. Bem, agora vamos a coisa: aparentemente tudo aqui está normal se encaixarmos esta história no teatro judicial do nosso país. Justiça rápida para quem tem vaselina para os casos terem logo um despacho, uma pena considerável apesar da luta de poder não terminar no tribunal. Há que se certificar se o condenado ainda está encarcerado. Agora caro leitor convido-lhe a projectar este caso para as matemáticas. Porquê? Eu explico recapitulando. Eram 4 criminosos que foram condenados a 24 anos cada um. Se fizermos 24 divido por 4, veremos que por "coincidência" o resultado é o número da faixa correspondente a música.

Muitos chamados, poucos escolhidos

1. Muitos chamados, poucos escolhidos (com C.I, Makarov, Noblast e Mahomed)

2. 144 (com Chaminé)

3. Antes e Depois - rxm (Com Cycle)

4. As pernas da mentira (com Will J. e Y- not)

5. Mukheristas da fé

6. Vi com os meus olhos

7. Marque com "V" ou "M"

8. Estou velho

9. Infectado (com noblast)

10. Vem me buscar (com Leo)

11. Força (com Dinastia Bantu, 4 Ases, Shady Killah, Emrooy don loko, Tinga Boy, D.K., Nhosa D. Kikaroo, Rajah, Traz contr@ste, P. Underground, Baby Devil, Dark Man e Noblast)

12. Beira (com Makarov)

13. Sangue nos lençóis (com Leo)

14. Deixem passar

15. Cycle no beat, Drifa no scratch

16. A bandeira nos une (com Sistema Aliado)

17. É por isso que eu canto (com Dac /Makarov)

18. Aproxima-te II (com Prime, Shackal e Demo)

19. Nossas Fontes (com Brother Cycle e CBC)

20. No princípio, agora e sempre (com Cycle e Majonyo)

21. Escrevi uma rima (com Makarov)

22. Papo furado (com Máscara Negra)

23. Obrigadocomé

Arranjos

: Noblast e Drifa

Pré-Masterização: Drifa

Masterização: Noblast

Capa: Drifa

Produção: Drifa, Noblast e Brother Cycle

Captação: Estúdio Beat Master



Texto extraido no http://www.myspace.com/21doutubro da autoria de Ngoga.

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