domingo, 12 de outubro de 2008

Estamos mais "INGNORANTES"?

O avanço descomunal da tecnologia trouxe evoluções gigantescas para a humanidade em todos os aspectos possíveis, mas paralelo a isso vem surgindo uma legião de ignorantes, ou de pessoas que pararam na evolução da sua cultura e do seu aprendizado.

Um exemplo nítido dos benefícios do avanço tecnológico é a medicina. Hoje estamos vivendo mais e com melhor qualidade porque a medicina deu largos passos graças a tecnologia e a rapidez dos meios de comunicação modernos para propagar este conhecimento.

Um exemplo negativo desse avanço tecnológico é forma automática e descartável como estamos aprendendo, a qual é objetivo deste artigo. Hoje temos muito mais informação, temos mais ferramentas de pesquisa, temos rapidez e facilidade na busca destas informações e temos como trocar e propagar estas informações das mais diversas formas possíveis para qualquer lugar do mundo. Com tudo isso, muitos não estão usando esta gigantesca oportunidade para filtrar o supérfluo e adquirir conhecimento centralizado, correto e de maneira eficaz.

A verdade é que a nova geração que já nasceu dentro da internet, não sabe como usar um dicionário ou uma enciclopédia. Eles não têm o hábito nem o prazer para a leitura, pois habituaram-se com o copiar e colar e pra isso basta que leiam apenas o que interessa.

Antigamente, tínhamos que ler um livro pra tirar informações. Nas alternativas mais rápidas, procurávamos o que queríamos lendo. Hoje, procuramos o que queremos com um Ctrl + F (nos editores de texto ou arquivos PDF) e digitando a palavra desejada. Isso sem falar no Google, que já traz tudo prontinho e mastigadinho.

É óbvio que estas opções devem ser usadas e não estou fazendo nenhuma defesa ao retrocesso. Uso muito o Google, uso o Ctrl + F pra localizar uma palavra ou expressão num arquivo, mas uso isso como uma ferramenta a mais para implementar meu conhecimento e não como uma forma de obter informação rápida, sem me preocupar com os fundamentos.

Um exemplo bem claro disso que estou falando é o método de ensino de algumas escolas. Algumas têm um método "decoreba" e consequentemente, descartável. Elas ensinam aos seus alunos que o Brasil foi descoberto por Pedro Álvares Cabral, em 1500, onde na verdade deveriam debater este tema e questionar se ele realmente foi o primeiro a pisar nesta terra, tendo em vista que alguns livros trazem informações da presença de outros desbravadores antes de Pedro Álvares Cabral. A simples mudança na forma de pensar faz uma grande diferença, mesmo que o final seja o mesmo. A busca da informação, o senso crítico, a opinião, o ponto de vista, devem sempre prevalecer sobre qualquer outra coisa.

Hoje muitos procuram informações descartáveis sem a menor preocupação com o senso crítico ou com a origem e veracidade destas informações, principalmente em escolas e universidades. Estamos pensando menos. Vejo isso como um problema, pois devemos usar a tecnologia, e mais especificamente a informática, como uma ferramenta e não como alguém que pega na nossa mão e faz nossas tarefas.

Um exemplo claro dessa degradação do conhecimento que acontece hoje, é a forma como estão modificando a língua portuguesa, em locais como chat, blogs ou programas de mensagens instantâneas.

Antes, crescíamos lendo, fazendo redações, e todos os trabalhos escolares eram escritos. Aprendíamos a língua portuguesa porque vivíamos em meio a prática dela, quer seja numa carta, num documento, ou num texto qualquer. A nova geração de robôs expressa-se literariamente mais em chats, messenger e blogs do que em meios escritos à mão, ou que exija uma leitura mais aprofundada. Isso faz com que esta nova geração tenha mais contato com a linguagem dos chats do que a linguagem dos livros. Por isso a ignorância.

Embora não concorde, é do conhecimento de todos que a língua portuguesa sofreu modificações nos chats para adaptar-se a rapidez. Algumas palavras foram abreviadas para agilizar, afinal um chat preza pela rapidez e não pela gramática. Você virou vc, beleza virou blz, também virou tb e por aí vai. Porém, tem algumas mudanças que vão na contramão da abreviação para escrever rápido. A palavra "não" virou naum. O "só" virou soh e o "é" virou eh. Que lógica é essa que coloca uma letra a mais e descaracteriza a palavra original? Fora essa existem inúmeras outras formas de "escrever" que são criadas sem nenhum embasamento e por pessoas sem a menor idéia do que estão escrevendo.

Veja a seguir um exemplo retirado de um diálogo num blog:

ahhh rushe eh vc!!!
To passando pra devolve o comentario!!!
Se o paulo dexase ja teria foto dele mas ele eh mtoooo chatu sabe!!! rsrsrsrs
Bjim

Pode-se observar claramente que trata-se de um "QUASE" analfabeto. Não por causa das "gírias" de internet, mas porque a maioria das palavras que ele tentou escrever normalmente neste diálogo, escreveu errado. Ou seja, não sabe escrever.

O "Tô" é aceito como abreviação de estou, mas deve ter um acento circunflexo (essa é compreensível e dá pra desculpar). A palavra devolve, na verdade quer dizer devolver e logo a seguir a palavra "comentário" está sem o acento agudo. Logo depois a palavra dexase, é capaz de fazer Machado de Assis se contorcer em seu túmulo e ainda depois desse crime o "JÁ" está sem acento agudo. Sem falar no nome Paulo em letras minúsculas. Quem duvidar pode conferir este texto em http://www.flogao.com/rushe.

Só detalhei este assunto porque ele demonstra para que lado estamos caminhando e dá pra ter uma idéia simples do tamanho do problema que temos hoje.

Não adianta criarmos políticas de inclusão digital, baixar impostos pra facilitar a compra de computadores, colocar computadores em todos os lugares se não cuidarmos de temas como este. A inclusão digital é importante sim, mas junto a esta inclusão é importantíssimo que caminhe a educação e a conscientização deste problema crescente na nossa juventude. De quê adianta uma geração que sabe operar um computador, mas é incapaz de dissertar um texto com uma opinião sobre algum tema? De quê adianta uma geração que sabe usar o computador para encontrar uma informação, mas não sabe falar sobre ela, ou defender uma posição?

Citarei dois exemplos de atitudes e ações que contribuem para esta mudança de mentalidade.

Uma idéia que atende a esta necessidade é o Edubuntu. Um Linux voltado a estudantes e com programas voltados à educação. A idéia desta distribuição foi ideal, pois ela faz com que o Linux seja mais uma ferramenta de aprendizado, e não somente uma ferramenta de busca, pra copiar e colar. O foco desta distribuição foi nos estudantes, mas a mesma atitude pode valer para as outras distribuições também, pois todas podem ser ferramentas de conhecimento.

Outra opção que considero primordial para a mudança deste quadro negativo são os cursos de informática e escolas. Os cursos e escolas deveriam preocupar-se em transformar o computador em uma ferramenta e não preocupar-se em fazer com que o aluno aprenda a operar um computador sem saber o que fazer com as informações. Uma coisa depende da outra, mas o aprendizado não deveria parar, por exemplo, quando o aluno aprende a usar um editor de texto. Tudo bem que um curso de informática não deve ensinar redação, por exemplo, mas deve fazer o aluno pensar, introduzindo esta mentalidade na sua cultura e encaminhando-o da melhor forma ao aprendizado total, que vai dar conclusão ao que foi iniciado com o aprendizado digital.

Cabe a todos nós, que trabalhamos com informática, a responsabilidade de levar este questionamento a esta geração que está passando por este problema. Estamos caminhando rumo a uma geração completa de ignorantes, mas ainda há tempo para recuarmos e modificarmos esta história. Acredito que devemos usar a informática para este fim, como um meio de melhorar nossa sociedade. A informática tem este poder e nós, programadores, desenvolvedores, técnicos, designers, professores, temos nas mãos a oportunidade de ensinar e mostrar como devemos usar a informática a nosso favor de maneira correta.

Por: Djair Dutra C. Jr.

Fonte : http://www.vivaolinux.com.br/artigo/Estamos-mais-INGNORANTES

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